A bela da tarde foi uma idealização de Alceu Valença lá do seu álbum Sete Desejos (1991). A inspiração veio depois que o poeta encontrou uma bela mulher em paris. Afirmando que era poeta, a moça então diz: “Então me faça um poema!” Mais tarde Alceu ficou sabendo que a tal moça era um atriz britânica Jacqueline Bisset.
Escutar La belle de Jour é debruçar num amor platônico de longas datas. O azul dos olhos da moça pode carregar, também a profundeza do mar e suas ondas beijando a praia. Vai ver por isso que Jolie me leva à essa música e o fato da gente ter se encontrado numa cidade do litoral. As vezes o mar me beijava, noutras tantas, Jolie me beijava.
Meu primeiro blues
As tardes eram tediosas no escritório. As pilhas de papeis drenavam minha energia e as vezes meu raciocínio era cortado pelo barulho do bebedouro borbulhando. Na janela, o balançar das folhas dançantes ao vento. No azul do céu, o amarelo e da minha janela eu via o verde. O mundo era mais colorido la fora então resolvi sair.
A imagem de Jolie, feito quebra cabeças, se formava na minha cabeça feito mistério. Quando se conhece alguém pela voz, os outros sentidos tentam, em vão, construir uma pessoa inteira na sua cabeça. Mente fértil, imaginei Jolie de todas as formas que pude imaginar naquele espaço de tempo. Tentei traçar uma estrutura, uma silhueta, um organismo vivo apenas com os traços da sua voz. Como se os traços dos seus tons vocais fossem capaz de tecer uma pele humana completa.
Meu nome no diminutivo virou poesia nos lábios dela. Clichê dizer que me derretia, mas meu vocabulário é pífio e me resguardo nos clichês da vida. A voz de Jolie era anzol, seu beijo era a isca que eu mordiscava sempre. O conjunto, voz, lábios e beijos formava o prisma, que minha luz branca perpassava e se convertia em raios multicoloridos. Três faces: a dela, a minha e a do desejo, como diz a música:
“Somos dois contra a parede e tudo tem três lados E a noite arremessará outros dados Os deuses vendem quando dão Melhor saber Seus olhos de verão Que não vão nem lembrar"
– Amorzinhooo, finalmente! – e sua voz me cortou ao meio!
Tomara, meu Deus, tomara
Rendido e atônito, tentava manter a compostura do meu corpo que insistia em ficar parado. Meus olhos percorriam lábios, pescoço, busto e as ancas de Jolie, ela percebia e se expressava mais e mais.
“Fugi do escritório, não tava aguento mais!” – balbuciei.
“Fez bem, venha” – e sua mão me embarcou num belo sonho bom!
E o quarto se fez pequeno perante aquela mulher. Os lençóis escorriam pela cama e sua mão ja navegava no meu peito pra depois me despir. Ela deve ter percebido a ausência de movimento do meu corpo e tomou o primeiro passo. E tudo que nos separava foi ficando ínfimo, íntimo, mínimo. Os avessos logo se viraram, minhas costas nuas entre suas coxas e suas mãos enveredavam meu pescoço. O espírito ativo de Jolie devorara meu estado de passividade, já me encontrava afogado nos seus lençóis.
Mas uma vez, feito do desejo a vítima, eu olhava pela janela do seu quarto. As cores vibravam, o amarelo ardia e o azul soprava meu juízo para longe. Enquanto minha pele lidava com suas unhas, eu vislumbrava as matizes do lado de lá da janela, como quem drogado por algo que alterasse meus sentidos. Minha mente dilatada por sensações de prazer quando sua boca me chupava as costas, baço, bunda e pernas….fui devorado.
Já duro, revidei as ardências! Deitei-a sobre fronhas e lençóis, seus seios balançaram com os movimentos para o meu deleite. Ela viu o desejo nos meus olhos: “Te acordei foi?” – e sorriu, porque sabe e sempre soube cada pedaço de prazer que sinto no meu corpo com o dela.
A panacéia da sua pele foi um alento para o dia! Bebi e me embebedei dos poros de sua pele, lábios dormentes e língua cansada não foram suficiente para me parar. E já havia tempo que suas mãos me sufocava em direção a sua boceta. Sem poder resistir, cedi. Lábios com lábios, minha saliva no seu mel incolor, meu paladar abriu caminhos e trocou carícias até arrancar gemidos e espasmos. “Isso, me chupa “. Contorcionismos dignos de Soleil, pernas, dedos, unhas e meu cabelo puxado compunham a pintura barroca à la Caravaggio. Me pergunto qual seria o nome da obra.
Se as águas da Guanabara escorrem na minha cara
Sexo é sede e o corpo cede
Água, desejo e tara
Sexo sedento e o corpo ardendo
Combustão e combustível
Sexo é morte da razão
Morre pra nascer
A troca do cérebro pelo coração
A cara vermelha do sufoco nas suas coxas e o pau duro já devorado pela sua buceta. O cavalgar frenético e seu peso no meu corpo. Cravo os dedos na sua bunda, apertando-a. Me fode, foi a palavra mais dita e gemida, bem clichê eu sei, mas mente cedida pelo desejo castiga o corpo.
Além de penetrar seu corpo, queria penetrar sua alma. E num movimento brusco a deitei de pernas abertas pra mim. Prendi suas mãos acima da cabeça, segurei como quem tenta domar uma fera. Desci beijando seu templo. Pescoço, ombro, seios, barriga. A fome não passava e seu olhar de onça menina ferozmente me afogava em suas águas cristalinas. Sua flor de tangerina me comia, e eu cedia, metia, rápido, trépido. A cama batia contra a parede, meu corpo se chocava contra o dela, os estralos, os gemidos, minha avidez e seu gozo. Estrangulado, abracei suas pernas, forçando-as contra mim! Inclinei meu corpo para trás, com as mãos na sua cintura empurrei o máximo que pude, sua buceta reagiu com espasmos, logo em seguida jorrei! Voltado pra ela, me derramei entre seus seios volumosos e sua mão que tanto me machucou, descansara na minha nuca.
“Volto amanhã para sp,”
– volta quando? – ansioso perguntei?
“ainda não sei”
Como Alceu já cantava: “mas belle de jour no azul viajava”